por Sofia Sterzi e Silva
ECAUSP, junho de 2009
Design gráfico hoje e amanhã
O computador surtiu, há poucas décadas, um grande impacto no desenvolvimento do design
gráfico. Desenhos e composições que antes demorariam dias ou semanas, com o computador
demoram minutos ou horas. Abriu-se uma grande porta para a criatividade da mente humana.
O design editorial, especificamente, é uma área que tradicionalmente trabalha com regras para
maximizar a legibilidade. Mas o surgimento da internet trouxe nas últimas décadas uma mudança
estética nos padrões, um questionamento de regras. A rapidez e agilidade que a interface do
computador oferece fez diversos elementos, entre eles a tipografia, serem encarados de uma forma
diferente. A televisão, a internet, os jornais, o cinema, os livros, todos esses suporte para informação
trouxeram a idéia de que tudo é permitido e há espaço para muita experimentação. Foi
enfraquecendo-se a idéia de que a tipografia deveria ser algo atemporal, e foram fortificando-se idéias
como poluição visual e efemeridade. A área de trabalho do computador tornou-se a nova tela, o
novo papel branco. O comando “desfazer” é muito superior à borracha, pois não deixa traços.
para outra. Mas isto, longe de ser um problema, tornava-se cada vez mais algo a enriquecer os
projetos gráficos. Os estudantes das áreas gráficas eram estimulados a não seguir regras, ou melhor, a
questioná-las, e inventar as próprias regras. A simplicidade do modernismo também foi questionada,
sendo tachada de clichê em algumas situações.
Já passamos, inclusive, por uma fase de experimentações infindáveis e aparentemente sem
sentido (mas cujo sentido é justamente este - experimentar, estudar possibilidades). Hoje, estamos
iniciando uma fase de equilíbrio entre experimentação e ponderação e conceitos estabelecidos do
design gráfico, regras de legibilidade, leiturabilidade, equilíbrio, desequilíbrio etc.
Mas o computador ainda pode ser uma armadilha. Não é exagero dizer que é até arriscado para
um designer gráfico usar demais um computador para seu processo criativo. Afinal, o mundo não se
restringe a uma tela, um teclado e ou mouse (ou mesmo uma tablet). E não se pode criar tudo numa
tela de computador, que ainda não atingiu tal nível de sofisticação e integração com a mente humana.
Com certeza isso acontecerá, os sistemas tornar-se-ão cada vez mais intuitivos (já existem pesquisas e
experimentos em escolas de ciência da computação sobre mouses/cursores que obedecem
comandos direcionais diretamente da mente.), mas ainda não é o caso.
Os designers gráficos deveriam tentar superar algumas posições um tanto ingênuas. Pode ser
pura ilusão achar que a mais nova tendência da tipografia seja automaticamente melhor e tenha
mais níveis de significado que as experiências anteriores e que estavam mais ou menos
preocupadas com as possibilidades formais. Também pode ser ilusão o fato de que a nova
tecnologia digital tenha maior autoridade e represente uma forma e progresso, considerando que o
progresso tecnológico tem frequentemente causado alguma erosão nos valores humanos.
- Heller, 2007: 283
O questionamento, a quebra de paradigmas e a mudança são fundamentais para a evolução do
ser humano e isso não é diferente na especificidade do design gráfico. A experimentação é, e sempre
será, o coração do design. Mas isso não quer dizer que regras são descartáveis, muito pelo contrário.
“As regras podem ser quebradas, mas nunca ignoradas”- David Jury.
O papel impresso, mesmo com o crescimento exponencial da internet e de novas mídias
interativas, ainda tem um importante papel na cultura mundial. Ainda não são todos que têm acesso à
internet, apesar de o número absoluto ser incrível. Há e continuará havendo, sim, a competição da
internet com a impressão. Alguns jornais são contra publicar notícias online pois “estão dando a
informação de graça”, mas os blogs já têm tamanha envergadura que não é mais possível segurá-los
com esse tipo de argumento. É necessário encarar a realidade e olhar para frente, criar filtros de
informação pois, como se sabe, a quantidade de informação disponível para cada vez mais pessoas é
impossível de ser absorvida e compreendida. Além disso, a maioria é questionável.
Os diferentes tipos de mídias se completam. Peguemos, por exemplo, a internet, a televisão e o
design editorial (revistas, jornais e livros). São linguagens diferentes, timings diferentes, situações,
emoções diferentes. Uma adiciona à outra e não há como brecar esse processo, é algo que acontece
e acontecerá, a informação será cada vez maior e alcançará cada vez maiores distâncias, num espaço
cada vez mais curto de tempo. Mas a internet não desvaloriza o livro. É apenas outra situação, ou até
mesmo, outra “tribo”. Não é todo mundo que gosta de ler na tela e um computador, ao mesmo
tempo em que já há quem somente leia notícias num computador.
Por isso, talvez a internet não seja algo a ser temido pelo design editorial. Este deve seguir seu
próprio caminho, claro, sem negar a existência da mesma, mas não tentando sempre copiá-la e imitála,
pois este exercício será inútil - uma revista não é um website. Deve-se, sim, procurar formas de
integrar as duas coisas, o que já tem sido feito por algumas revistas e jornais, que dão continuações
(ou informações paralelas sobre) de suas matérias em websites integrados.
O futuro é historicamente difícil de prever, mas o progresso se dá justamente fazendo essa
tentativa. Talvez em 200 anos a informação impressa não exista mais, pois as gerações e a tecnologia já
terão caminhado no sentido de interagir integralmente. Mas hoje e no futuro próximo, uma coisa
ainda é certa... A magia existente numa folha de papel em branco e um lápis ao lado ainda não foi
alcançada pela área de trabalho de um computador.
Bibliografia
BOMENY, Maria Helena. O panorama do design gráfico contemporâneo. Tese de doutorado. São
Paulo: FAU, 2009.
Design gráfico: visões de profissionais brasileiros. Núcleo de design gráfico do Gfau. São Paulo:
FAU, 1994
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